VÍDEO: ozônio corrói borracha em minutos; especialista alerta sobre ozonioterapia
Presidente Lula (PT) sancionou nesta semana lei que permite o procedimento. Decisão é considerada polêmica por contrariar recomendação de entidades médicas.
Por Fantástico
VÍDEO: Ozônio corrói borracha em minutos; especialista alerta sobre ozonioterapia
Em uma decisão polêmica, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contrariou a recomendação de entidades médicas e sancionou, nesta semana, uma lei que autoriza o uso da ozonioterapia como tratamento de saúde complementar.
Para o procedimento, é utilizado o ozônio. Em condições normais, ele é um gás — o mesmo que forma a camada de ozônio, em uma altitude entre 15 e 40 quilômetros da Terra.
Esse gás, no entanto, é instável, carregado e “quer” reagir com tudo o que está em volta dele. Onde o ozônio entra, acontece o maior estrago. (entenda mais abaixo).
Para demonstrar os danos de que o ozônio é capaz, o professor titular de Química Inorgânica da USP, Henrique Toma, fez um experimento simples com dois elásticos.
O especialista inseriu um pedaço de borracha dentro de um recipiente de vidro. Em seguida, inseriu o ozônio. Em poucos minutos, a borracha foi desmembrada (veja no vídeo no início desta reportagem).
“Depois de algumas horas, vira um pó. Não vai sobrar nada da borracha”, explica o professor.
“Dentro do nosso corpo, o problema é o que ele vai fazer. [Se] o tecido que está contaminado é um tecido que você quer se livrar dele, as pessoas falam: ‘vou usar ozônio pra matar esse tecido’. Mas o ozônio não mata só o tecido contaminado. Ele mata todo e qualquer tecido”, alerta.
Por esse motivo, nas especialidades em que o ozônio está aprovado no Brasil, como a odontologia, o uso é externo e local, em uma área bem restrita. Não tem nada de introduzir ozônio para circular no corpo.
“Nós precisamos trabalhar com uma dose adequada, com a forma correta do ozônio, no momento adequado”, diz Carlos Goes Nogales, presidente da Câmara de Ozonioterapia no Conselho Regional de Odontologia de São Paulo.
O que é o ozônio?
O ozônio é praticamente um irmão gêmeo do oxigênio — o mesmo que está na atmosfera, no ar que respiramos. Em termos simples, o oxigênio é mais “tranquilo”: se ninguém mexer, ele fica na atmosfera sem aprontar tanta coisa.
Já o ozônio, não. Ele é o gêmeo temperamental. É instável, carregado e quer reagir com tudo o que está em volta dele. Onde o ozônio entra, acontece o maior estrago.
Na ozonioterapia de uso médico, normalmente o gás tem de ser bombeado para dentro do corpo pelo ouvido, pela vagina ou pelo reto. Também existem injeções e o procedimento de tirar o sangue, misturar com ozônio e injetar de volta.
Nada disso, entretanto, tem comprovação científica. Já foram feitas tentativas junto à Anvisa para aprovar o uso médico da substância. Os estudos, porém, não foram considerados consistentes.
“Foram vários processos protocolados, e nenhum conseguiu comprovar a sua eficácia clínica”, diz Anderson de Almeida Pereira, da Anvisa.
O que diz a Associação Brasileira de Ozonioterapia
O site da entidade menciona a ozonioterapia como um tratamento de apoio para dores, inflamações crônicas, infecções variadas, feridas e queimaduras, problemas vasculares, derrames cerebrais, esclerose múltipla, tumores malignos e até autismo.
Para entender como um mesmo tratamento poderia ser usado pra tantas doenças diferentes, a equipe do Fantástico procurou pela associação, que enviou uma nota.
No texto, o presidente da entidade, Antônio Teixeira, vai no sentido oposto ao do próprio site da associação. Ele diz que a entidade não indica ozonioterapia para diversas patologias que ainda necessitam de estudos mais robustos.
O dirigente também declarou que qualquer afirmação de que o ozônio medicinal não tem evidência científica é “falaciosa e retórica”. Disse ainda que a alegação de que esse gás medicinal é tóxico “é terrorismo científico”.
Apesar de o potencial médico do ozônio ser debatido há mais de 100 anos, até hoje a ozonioterapia não se enquadra na “medicina baseada em evidências” — aquela em que pesquisas consistentes mostram ser um tratamento seguro e eficaz.
Veja a reportagem na íntegra abaixo:
Conheça os possíveis riscos da ozonioterapia como tratamento de saúde complementar