PRF aplicou mais de 90% das multas contra organizadores de bloqueios bolsonaristas após decisão do STF ter ameaçado prender diretor-geral
Diretor é investigado pela PF pela demora em desfazer bloqueios. Das 55 multas aplicadas contra organizadores, 50 ocorreram depois de a Justiça determinar que a corporação usasse todos os meios para liberar as vias. Dentre as possíveis punições estava prender Silvinei Vasques, comandante da PRF, por desobediência. Informação está em ofício da PRF ao Supremo Tribunal Federal.
Por Arthur Stabile, g1
Diretor-Geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques (à dir) é investigado pela ação no 2º turno da eleição — Foto: Divulgação/PRF
Mais de 90% das multas emitidas pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) contra organizadores de bloqueios antidemocráticos pelo país ocorreram depois de uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) ter determinado a liberação das estradas — com ameaça de prisão para o diretor-geral da corporação, Silvinei Vasques.
Documento da PRF enviado ao Supremo em 6 de novembro, obtido pelo g1, indica a aplicação 55 multas aplicadas para pessoas e empresas que organizaram os atos pelo país entre os dias 30 de outubro e 6 de novembro (veja a lista abaixo).
Apenas cinco das 55 multas (9%) foram aplicadas até as 21h do dia 31 de outubro, uma segunda-feira. Naquele dia, pelo menos 23 estados e o Distrito Federal registraram mais de 300 estradas fechadas. Os bloqueios haviam começado um dia antes, em 30 de outubro, depois de confirmada a vitória de Lula (PT) sobre o presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições presidenciais. Contrariados com os resultados das urnas, os manifestantes pediam intervenção militar, o que vai contra a Constituição brasileira.
Por volta das 21h30 da mesma segunda-feira, o ministro Alexandre de Moraes determinou que a Polícia Rodoviária Federal e as polícias militares dos estados tomassem ações imediatas para desobstrução de vias ocupadas ilegalmente. Entre as penas previstas por Moraes em caso de desobediência estava multar em R$ 100 mil Silvinei Vasques, diretor-geral da PRF, e até prendê-lo.
Na sentença, Moraes citou “omissão e inércia da PRF”, e cobrou que Vasques agisse “imediatamente”.
A partir das 22h de segunda-feira — ou seja, depois da decisão de Moraes –, a PRF aplicou as outras 50 multas, o equivalente a 91% do total de 55 contra os bolsonaristas organizadores dos bloqueios antidemocráticos, segundo o ofício enviado ao STF.
O g1 procurou Vasques e também a Polícia Rodoviária Federal. Até a publicação desta reportagem, ambos não haviam se manifestado.
As autuações foram aplicadas até 3 de novembro, com base no artigo 253-A do Código de Trânsito Brasileiro, para quem organiza protestos que bloqueiam o trânsito e o direito de ir e vir das pessoas. Ao todo, 40 pessoas e dez empresas foram multadas.
O valor de cada multa é de R$ 17.608,20 para esse tipo de infração de trânsito, considerado gravíssimo – e que gera ao motorista a suspensão do direito de dirigir por 12 meses. Em caso de reincidência, a multa tem valor dobrado, de acordo com o texto da lei.
Somadas, as punições contra organizadores de bloqueios bolsonaristas totalizam R$ 968.451,00.
O ofício da PRF faz parte de uma investigação no Supremo para apurar se houve irregularidade na atuação da corporação para desfazer os bloqueios bolsonaristas e ao promover blitz durante o domingo do 2º turno, mesmo proibida pelo TSE.
Nesta quinta (10), a Polícia Federal abriu inquérito contra Vasques para apurar possíveis crimes de prevaricação e violência eleitoral durante o 2º turno da eleição presidencial. O inquérito foi aberto a pedido do Ministério Público, que apontou irregularidades nas blitzes feitas pela PRF no domingo da eleição e, também, na demora em desfazer bloqueios em rodovias provocados por atos de caráter golpista.
Horários das multas da PRF por organização de bloqueios
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