vergonha nacional

Pintou um clima: o contexto

A explicação correta para a fala de Bolsonaro

Renato Terra

Roteirista e autor de “Diário da Dilma”. Dirigiu o documentário “Uma Noite em 67”.

Renato Terra

“Parei a moto numa esquina, tirei o capacete e olhei umas menininhas. Três, quatro, bonitas, de 14 ou 15 anos, arrumadinhas, num sábado, numa comunidade. E vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei. ‘Posso entrar na tua casa?’ Entrei. Tinha umas 15, 20 meninas, sábado de manhã, se arrumando. Todas venezuelanas”, disse o presidente em entrevista para o canal Paparazzo Rubro Negro.

O primeiro argumento da defesa foi dizer que o presidente usa a expressão “pintou um clima” o tempo todo. Um levantamento feito pela revista piauí mostrou que, em 181 lives, o presidente jamais havia usado o termo.

Sobre um fundo magenta há um emoji amarelo de super heroi com capa e máscara azuis fazendo sinal de arma e piscando o olho.
Ilustração de Débora Gonzales para coluna de Renato Terra – Débora Gonzales

Em seguida, Jair Bolsonaro gravou um vídeo ao lado de Michelle para dizer que suas palavras “por má-fé foram tiradas de contexto”. Mas o PP, que faz parte da sua base de apoio, enviou um documento para a Câmara dos Deputados em que escreve: “Resta claro que a expressou [sic] ‘pintou um clima’ se refere única e exclusivamente à impressão que Bolsonaro teve de que as meninas venezuelanas estariam se prostituindo!”.

Mas é totalmente errada e de má-fé a insinuação de que “pintar um clima”, nesse contexto, tenha a ver com atração sexual por meninas menores de idade.

É preciso entender o contexto maior.

Nesse dia, pela manhã, Bolsonaro já havia evitado a colisão de dois trens, curado 43 leprosos e teve tempo de voar em volta da Terra na velocidade da luz para fazer o tempo voltar a 1964 enquanto, com os dentes, desarmava bandidos perigosíssimos. Na hora do almoço, encontrou a cura do câncer.

Quando chegou à casa das meninas venezuelanas, depois de caminhar sobre as águas do São Francisco e distribuir comida saudável para todo mundo que passa fome, Bolsonaro trazia um caminhão de reforma. Aquela casa havia sido escolhida por um sopro divino para ganhar uma nova decoração.

Bolsonaro trocou o piso, instalando pedras de mármore do século 17. Instalou novos móveis e, antes de sair, mostrou seus dotes artísticos ao pintar um notável afresco com inspirações neoimpressionistas em que trazia uma nova interpretação para a estética antiquada da previsão do tempo. Com uma tinta mágica, Bolsonaro pintou um clima. Por sua colossal humildade, presidente se referiu à obra de arte na terceira pessoa.

Essa é a verdade que a mídia golpista quer esconder de você.

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