História

Palco de batalhas sangrentas, cidade a 228 km de SP é considerada capital da Revolução de 1932

Cruzeiro (SP) ficou marcada por batalhas sangrentas e rendição na revolução. Em 2008, lei estadual reconheceu a cidade como a capital da revolução.

Por g1 Vale do Paraíba e região

 

Soldados durante a Revolução Constitucionalista de 1932 — Foto: Arquivo pessoal

Soldados durante a Revolução Constitucionalista de 1932 — Foto: Arquivo pessoal

Localizada a 228 quilômetros de distância da capital paulista, a cidade de Cruzeiro, no Vale do Paraíba, foi palco de batalhas sangrentas da Revolução Constitucionalista de 1932, celebrada no 9 de julho.

Muito além dos conflitos que mataram oficialmente 943 pessoas, foi na cidade em que aconteceu a assinatura da rendição militar do Exército Constitucionalista perante o Exército Federal. Em 2008, uma lei reconheceu a cidade como Capital Estadual da Revolução Constitucionalista.

Cápsulas da Revolução de 32 encontradas em Cruzeiro (SP) — Foto: Arquivo pessoal

Cápsulas da Revolução de 32 encontradas em Cruzeiro (SP) — Foto: Arquivo pessoal

Na cidade, até hoje são encontrados resquícios da revolução. “Eu mesmo já encontrei restos mortais, trincheira, cápsulas”, relata o professor e historiador especialista na Revolução de 32, Carlos Felipe do Nascimento, de Cruzeiro.

“Em Cruzeiro, até pouco tempo, se tinha marca de batalha. Cruzeiro preserva muito isso da Revolução de 32”, completou.

Na época da Revolução, Cruzeiro era um município que tinha pouco mais de 30 anos de existência. Localizada na divisa dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, a cidade era um local onde as pessoas paravam para descansar.

Um dos pontos de referência no município era o Túnel da Mantiqueira – local onde era projetada a expansão da cidade. Com quase mil metros de extensão, a ferrovia liga Cruzeiro a Passa Quatro (MG).

Foi nesse túnel onde o maior número de pessoas morreu durante o conflito. Somente de vítimas identificadas, a estatística chega a 250. “O túnel foi o lugar onde mais pessoas morreram. Só de detecção de militares e pessoas cadastradas, foram pelo menos 250 mortos, fora os civis e outras pessoas que ainda estão enterradas”, conta Nascimento.

Soldados da Revolução de 32 no Túnel da Mantiqueira, em Cruzeiro, SP — Foto: Arquivo pessoal

Soldados da Revolução de 32 no Túnel da Mantiqueira, em Cruzeiro, SP — Foto: Arquivo pessoal

Além dos corpos enterrados, a Capital da Revolução Constitucionalista conta com o túmulo dos soldados federais que lutaram contra os paulistas, localizado há cerca de 100 metros da fronteira com São Paulo.

“Cruzeiro foi a área mais sangrenta e até hoje as pessoas encontram cápsulas e restos mortais daquela época. Até hoje se encontram em plantações restos mortais na cidade”.

As batalhas, que, segundo o historiador, se concentravam no entorno do túnel, aconteceram de várias formas. Elas se estendiam até o centro da cidade, totalizando uma extensão de cerca de 30 km de luta.

“Existe até um pedido, um protesto feito pelas pessoas pedindo ‘Por favor, removam os corpos de lá, pois o cheiro está chegando aqui’. Isso aconteceu aqui”, contou o professor.

Herói cruzeirense

O símbolo cruzeirense da Revolução Constitucionalista de 1932 chama-se Manoel de Freitas Novaes Neto. Nascido em novembro de 1892, ele morreu durante a batalha, no dia 5 de agosto.

A morte do capitão aconteceu durante a tentativa de avançar em um reconhecimento de território em Queluz (SP). Acompanhado de pelo menos cinco soldados, o capitão recebeu ordem para se render, mas resistiu e foi atingido em um tiroteio – tornando símbolo de heroísmo para os demais militares que o acompanhavam.

“Nosso herói é o capitão Manoel de Freitas Novaes Neto, o capitão Neco, que morreu metralhado em Queluz na Revolução de 1932, para que a cidade não fosse atacada. Aqui foi a batalha mais sangrenta”, descreve o historiador.

Após ser atingido pelos disparos, o capitão foi socorrido pelos soldados que saíram ilesos da batalha e levado para o Hospital de Sangue de Cruzeiro, morrendo naquele mesmo dia 5.

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