História

Hamas, Jihad Islâmica e Hezbollah: o que querem, qual a força, onde e como agem os grupos armados islâmicos no Oriente Médio

Israel acusa a Jihad Palestina Islâmica de ser responsável pela explosão em hospital na Faixa de Gaza. O Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas, fala em mais de 400 mortos. Os dois grupos são financiados pelo Irã, que alimenta ainda o Hezbollah.

Por g1

 


Hamas, Hezbollah, Jihad Islâmica: como agem os grupos armados islâmicos no Oriente Médio

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Hamas, Hezbollah, Jihad Islâmica: como agem os grupos armados islâmicos no Oriente Médio

explosão de um hospital na Faixa de Gaza nesta terça-feira (17), que deixou ao menos 400 mortos, trouxe novamente o grupo armado extremista Jihad Islâmica Palestina ao noticiário da guerra entre a organização terrorista Hamas e Israel.

 

Os mais recentes conflitos na região começaram em 7 de outubro, quando o Hamas disparou foguetes contra Israel, a partir da Faixa de Gaza. Por terra, ar e mar, homens armados invadiram o território israelense. Houve relatos de que os invasores mataram e sequestraram pessoas. A Jihad afirmou que recebeu parte desses reféns.

Tanto o Hamas quanto a Jihad Islâmica são financiados pelo Irã, que também alimenta com armas e dinheiro o Hezbollah, grupo político e paramilitar islâmico com sede no Líbano e que também se envolveu no conflito com Israel.

Veja, abaixo, como e onde atuam, o que querem e qual a força destes três grupos armados:

  • Hamas
  • Jihad Islâmica Palestina
  • Hezbollah

 

Hamas

 

Infográfico sobre o Hamas — Foto: Bárbara Miranda e Kayan Albertin/Arte g1

Infográfico sobre o Hamas — Foto: Bárbara Miranda e Kayan Albertin/Arte g1

Onde atua:

  • Na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, ambos territórios palestinos.
  • Mas tem líderes espalhados por outros países, como Líbano e Catar.

 

O que quer:

  • Na língua árabe, Hamas é um acrônimo para “Movimento de Resistência Islâmica”.
  • Nasceu em 1987, após o início da primeira intifada palestina contra a ocupação israelense na Cisjordânia e na Faixa de Gaza.
  • É considerado terrorista por Estados Unidos, Israel, União Europeia e Reino Unido, entre outros.
  • O estatuto do grupo terrorista, de 1988, definiu a Palestina histórica, incluindo a atual Israel, como terra islâmica e excluiu qualquer possibilidade de paz permanente com o Estado judeu. No documento, o Hamas clamou pela destruição de Israel.
  • Em 2017, o grupo atualizou o estatuto, aceitando formalmente a criação de um Estado palestino provisório na Faixa de Gaza, na Cisjordânia e em Jerusalém oriental. Também afirmou que sua luta não é contra o povo judeu, apenas contra os “agressores sionistas de ocupação” – mas continuou sem reconhecer Israel.
  • O novo documento também insistiu que o Hamas não é uma força revolucionária que busca intervir em outros países.

 

Naquele ano, o líder do braço político do grupo afirmou: “O Hamas advoga pela libertação de toda a Palestina, mas está pronto para apoiar o Estado de acordo com as fronteiras de 1967, sem reconhecer Israel ou ceder quaisquer direitos”.

 

Na ocasião, Netanyahu afirmou que o Hamas estava tentando “enganar o mundo”.

 

  • O Hamas possui um braço armado, mas também um braço político, que, em 2006, venceu as eleições legislativas na Palestina, derrotando o Fatah. Representado pelo presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANL), Mahmoud Abbas, o Fatah é maior grupo da Organização para a Libertação Palestina (OLP).
  • No ano seguinte, o Hamas expulsou o Fatah da Faixa de Gaza, tomando controle político e administrativo do território, o que levou Israel a impor um bloqueio que permanece ativo até hoje.
  • O braço político e administrativo do Hamas inclui professores, médicos e urbanistas. O grupo implementou e geriu várias escolas e clínicas, controlando, por exemplo, todo o sistema de saúde e educação de Gaza.
  • O Hamas se firmou como principal grupo palestino contrário aos Acordos de Oslo, negociados de 1993 a 1995 entre Israel e a OLP. Após os acordos, o Hamas realizou atentados suicidas, matando civis israelenses. Depois do fracasso de uma cúpula patrocinada pelo presidente americano Bill Clinton, em 2000, e da segunda intifada que ocorreu na sequência, o Hamas continuou realizando atentados suicidas e ganhou poder e influência, enquanto Israel reprimia a Autoridade Palestina, também acusada de patrocinar ataques, conforme a BBC.
  • Em março e abril de 2004, o líder espiritual do Hamas, Sheikh Ahmed Yassin, e seu sucessor, Abdul Aziz al-Rantissi, foram mortos em ataques com mísseis israelenses em Gaza.

 

Qual a força e como age:

  • É o maior grupo armado na Palestina.
  • Em 2008, os foguetes do Hamas tinham um alcance máximo de 40 km. Em 2021, o alcance chegou a 230 km, segundo afirmou Ali Baraka, um líder sênior do Hamas, que fica baseado em Londres, à agência de notícias Reuters.
  • O Exército israelense diz que mais de mil foguetes foram disparados contra o país em três dias de conflito em 2021 – 90% deles interceptados pelo sistema antimísseis Domo de Ferro.
  • Nos anos 1990, o Hamas tinha menos de 10 mil combatentesHoje, seriam 40 mil, segundo uma fonte próxima ao grupo afirmou à Reuters. O número total, no entanto, não é conhecido.
  • O Hamas desenvolveu uma rede de túneis sob Gaza para facilitar fugas e a importação de armas vindas do exterior.
  • O grupo também conseguiu, ao longo dos últimos anos, adquirir bombas, foguetes, morteiros, mísseis antitanque e mísseis antiaéreos.
  • Segundo informações da BBC, o Hamas opera atualmente uma variedade de mísseis de longo alcance, como o M-75 (que avança até 75 km), o Fajr (até 100 km) e o R-160 (até 120 km). Também conta com alguns M-302s, que chegam ainda mais longe (até 200 km).
  • Os foguetes de curto alcance são fabricados pelo grupo em Gaza. Mas, segundo o que afirmou um dos líderes à Al Jazeera no ano passado, os foguetes de longo alcance vêm do Irã, da Síria e pelo Egito.
  • Ainda segundo essa liderança, o grupo recebeu US$ 70 milhões em ajuda militar do Irã – o país já admitiu que ajuda a financiar e a treinar o grupo, mas nega envolvimento no ataque de 7 de outubro de 2023 a Israel.
  • Segundo uma fonte da área de segurança de Israel, no último ano o Irã aumentou o financiamento do braço armado do Hamas de US$ 100 milhões para cerca de US$ 350 milhões anuais.
  • Além de receber armas de fora, o Hamas fabrica os próprios armamentos, usando para isso, inclusive, parte da infraestrutura destruída por ataques anteriores de Israel (chapas e tubos metálicos, estrutura elétrica), além de reciclagem de munições israelenses que não explodiram, de acordo com o palestino naturalizado americano Ahmed Fouad Alkhatib, em artigo para o Washington Institute.
  • No ataque de 7 de outubro, o Hamas disparou mais de 2,5 mil foguetes. Combatentes em parapentes, motocicletas e veículos de quatro rodas invadiram Israel, destruindo comunidades, matando 1,3 mil pessoas e levando dezenas como reféns.

Jihad Islâmica Palestina

 

Infográfico sobre a Jihad Islâmica Palestina — Foto: Bárbara Miranda e Kayan Albertin/Arte g1

Infográfico sobre a Jihad Islâmica Palestina — Foto: Bárbara Miranda e Kayan Albertin/Arte g1

Onde atua:

  • Na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, ambos territórios palestinos.
  • Possui escritórios em Beirute e Damasco, no Líbano, segundo a Reuters.
  • De acordo com o governo americano, também possui escritórios em Teerã, no Irã.

 

O que quer:

  • Aliado ocasional do Hamas, participou do ataque a Israel em 7 de outubro de 2023, recebendo reféns feitos pelo grupo terrorista.
  • É acusado por Israel de ser responsável pela recente explosão de um hospital na Cidade de Gaza, o que o grupo nega.
  • Foi fundado no início dos anos 1980 por Fathi Shiqaqi para libertar a Palestina e combater a ocupação israelense por meio da luta armada.
  • Shiqaqi, anteriormente envolvido com a Irmandade Muçulmana, uma organização islamita fundada no Egito, foi assassinado em Malta, em 1995.
  • O grupo, de início, era formado principalmente por intelectuais e estudantes universitários e, ao longo dos primeiros anos, se transformou em um movimento armado organizado.
  • A Jihad Islâmica Palestina almeja a libertação de toda a Palestina histórica, ou seja, não reconhece Israel e é contra a solução de dois Estados na região.
  • Segundo estudos mencionados no livro “A history of Palestinian Islamic Jihad: Faith, awareness, and revolution in the Middle East”, a Jihad Islâmica, diferentemente do Hamas, surgiu como um “movimento revolucionário, pequeno e contra o establishment” e se diferencia por seu “vanguardismo revolucionário por meio do qual não deseja se tornar um movimento popular de massa mais amplo”.
  • É considerado como organização terrorista pelos Estados Unidos e pela União Europeia.
  • Nos anos 1990 e 2000, também realizou atentados à bomba suicidas contra Israel.
  • O grupo é contra qualquer engajamento político com Israel.
  • Diferentemente do Hamas, não participa da política local e não concorre em eleições.

 

Qual a força e como atua:

  • Segundo maior grupo armado na Faixa de Gaza e o terceiro maior nos territórios ocupados.
  • Apesar de já ter realizado ataques em conjunto com o Hamas, o grupo também opera de forma independente e se concentra, principalmente, em confrontos militares contra Israel.
  • Em 2017, por exemplo, o Hamas e a Jihad Islâmica afirmaram ser responsáveis por foguetes e morteiros disparados contra Israel.
  • Existem poucas estimativas sobre o tamanho do grupo. Segundo a Reuters, estimativas de 2021 vão de cerca de mil a vários milhares de combatentes, conforme o CIA’s World Factbook.
  • Também há pouca informação sobre o arsenal do grupo. De acordo com a Reuters, a Jihad Islâmica possui uma quantidade significativa de foguetes, morteiros e mísseis antitanque.
  • Também recebe financiamento do Irã.

 

Hezbollah

 

Infográfico sobre o Hezbollah — Foto: Bárbara Miranda e Kayan Albertin/Arte g1

Infográfico sobre o Hezbollah — Foto: Bárbara Miranda e Kayan Albertin/Arte g1

Onde atua:

  • Líbano.
  • Também atuou na Guerra civil da Síria.
  • Afirma estar acompanhando o conflito entre Israel e Hamas.

 

O que quer:

  • Foi fundado pela Guarda Revolucionária do Irã em 1982, em meio à guerra civil do Líbano, para lutar contra forças israelenses, que haviam invadido o país.
  • O nome Hezbollah significa “Partido de Alá”. É um grupo de orientação muçulmana xiita.
  • Além de um grupo armado, o Hezbollah tem participação na política, com parlamentares, atuando como um partido político no Líbano, onde é denominado como “um Estado dentro de um Estado”, devido a sua ampla rede de forças políticas, militares e de serviços sociais. Tem apoio de grande parte da população xiita no país.
  • O grupo manteve suas armas depois do fim da guerra civil no Líbano para continuar lutando contra forças israelenses que ocupavam partes do sul do país. Anos de conflito levaram Israel a se retirar unilateralmente em 2000.
  • Tem como objetivo a “expulsão definitiva dos americanos, franceses e seus aliados do Líbano, pondo fim a qualquer entidade colonial”.
  • No manifesto publicado após sua formação, o Hezbollah diz ainda que tem como objetivo que “todos os filhos do nosso povo possam determinar seu futuro e escolher com toda liberdade a forma de governo que desejam” e sugere que a opção seja um governo islâmico. “Apenas um regime islâmico pode parar quaisquer novas tentativas de infiltração imperialista no nosso país”, diz o documento.
  • É considerado uma organização terrorista por Estados Unidos, Arábia Saudita e Israel. A União Europeia classifica o braço armado do grupo como terrorista, mas não o braço político.

 

Qual a força e como age:

  • Segundo o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), um think tank americano, o Hezbollah é o ator não estatal mais fortemente armado do mundo, com um arsenal grande e diverso de foguetes, além de mísseis balísticos, antiaéreos, antitanques e mísseis de cruzeiro.
  • O grupo afirma que tem capacidade para atingir, com foguetes, todas as áreas de Israel.
  • Segundo informações do site Politico, alguns mísseis guiados do grupo são capazes de transportar ogivas de 500 kg por uma distância de 300 km. O Hezbollah possui, ainda, sistemas de defesa aérea e uma frota de drones de reconhecimento e combate.
  • Ainda de acordo com o CSIS, a maior parte do arsenal é composta por foguetes de artilharia não guiados. O grupo teria capacidade de 130 mil lançamentos.
  • Em 2021, o líder do Hezbollah Sayyed Hassan Nasrallah disse que o grupo tinha cerca de 100 mil combatentes.
  • À Al Jazeera, um especialista do Atlantic Council, outro think tank americano, estimou em 60 mil o número de combatentes. Entre eles, há uma unidade de elite foi treinada para infiltrar Israel no caso de uma guerra.
  • O Irã financia e fornece armas ao grupo.
  • A capacidade militar do Hezbollah ficou evidente em 2006, quando o grupo sequestrou dois soldados israelenses, desencadeando uma guerra de cinco semanas contra Israel, que deixou 1,2 mil mortos no Líbano, a maioria de civis, e 158 mortos israelenses, a maioria militares.
  • Em 2012, o grupo apoiou Bashar al-Assad na guerra civil na Síria.

 

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