Famílias de SP denunciam falta de atendimento médico a presos com infecções de pele e hérnias em CDP

Em nota, a SAP não confirmou sobre as denúncias de infecções, mas disse que um dos presos que está com duas hérnias será encaminhado para um cirurgião nos próximos dias. Uma morte foi registrada na unidade recentemente por suspeita de meningite (veja nota completa abaixo).

Ao g1, a ex-mulher de um dos presos, informou que soube que ele estava passando mal por conta de duas hérnias na virilha e infecção urinária. Ele enviou uma carta à família pedindo medicamentos.

“Meu ex-marido está em uma situação deplorável. Ele está com duas hérnias, sendo uma em cada virilha, e expelindo pus pelo canal da urina. Eles dizem não ter médico lá dentro só um enfermeiro e pra ir pra hospital estão sem escolta. Na carta que mandou, ele disse estar tudo bem, mas se ele disser a verdade na carta, ele sofre represálias. Só soube que a situação estava ruim porque a mulher de um preso que está na mesma cela me contou”, disse.

“Também são relatos de inúmeros detentos com sarna, furúnculos e pessoas com machucados abertos. Também tiveram mortes, mas não querem que divulguem”, ressaltou.

Leia também

• Relatório de órgão de fiscalização aponta condições precárias em presídios de SP
• Erisipela: entenda o que é a infecção na pele causada por bactérias

Ainda conforme a mulher, o ex-marido está preso desde agosto deste ano por tráfico de drogas.

“Ele foi preso por ser dependente químico, ele foi pego no tráfico, porque ele traficava para uso. Como eu digo, ele cometeu um crime, está pagando um crime, mas não é por isso que tem que ser largado lá pra morrer. Por isso, denunciei na ouvidora da SAP e Ministério Público”.

A esposa de um detento, que está preso há três meses por roubo e sequestro, também afirmou à reportagem que o marido está com erisipela, infecção na pele causada por bactérias.

“Então, eu fui na visita há uns 20 dias e ele estava queimando de febre e com a perna inchada, vermelha. Um lado estava preto até. Aí eu saí, pedi para o funcionário pelo menos dar um remédio que abaixasse a febre dele, porque estava muito alta, e depois disso ele me falou que eles deram dipirona”, conta.

“Passou mais uma semana, aí eu fui na visita de novo e a perna dele estava muito inchada, muito inchada mesmo. Estourou um buraco lá, começou a sair um monte de pus e muita dor. Não estava conseguindo nem colocar o pé no chão. Aí levaram ele no médico ali na Vila Alpina, fizeram as drenagens e deram medicamento. Atendido ele foi, só que eu acho que o tratamento que deram pra ele foi muito fraco. Eu fui esse fim de semana de novo e está com a perna muito feia. O problema são os curativos, que não estão dando”, complementou.

Em nota, o Ministério Público confirmou que uma denúncia foi protocolada na Ouvidoria do MPSP e que dará andamento enviando para a promotoria de Justiça de Execução Criminal.

A Secretaria da Administração Penitenciária informa que o reeducando com hérnias “passou por atendimento nos últimos dias 26 e 30/10 e a equipe de saúde do CDP de Vila Independência segue acompanhando o caso. Inclusive, o reeducando deverá ser avaliado por um cirurgião geral nos próximos dias”.

A SAP disse ainda que houve um caso de morte suspeita de meningite na unidade.

“Teve pronto atendimento da equipe médica e posterior internação no Centro Hospitalar Penitenciário. O paciente acabou falecendo no hospital. De acordo com as normas da Vigilância Epidemiológica, por se tratar de um caso suspeito, houve o isolamento dos reeducandos que estavam na mesma cela e acompanhamento da equipe de saúde, sem relato de quaisquer sintomas por parte dos demais custodiados. Foi autuado procedimento apuratório, além de informado o Poder Judiciário”.

Comida estragada, água com larva, celas sem ventilação, além de presos subnutridos e doentes – com necrose e sem atendimento – foram algumas das inúmeras violações de direitos humanos encontradas nos presídios de São Paulo durante inspeção feita pelo Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura, órgão vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos.

Já nos presídios femininos, as mulheres não têm absorventes suficientes e as grávidas não fazem pré-natal.

As informações preliminares foram divulgadas na sexta-feira (27), em uma audiência pública na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo). O órgão realizou vistorias em 10 das 182 unidades prisionais do Interior e Grande São Paulo.

O relatório completo sobre os presídios paulistas será divulgado entre fevereiro e março e será encaminhado para as autoridades, com recomendações a serem seguidas.

Em nota, a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) disse que não não recebeu “nenhum relatório do referido órgão, preliminar ou definitivo, motivo pelo qual não comentará as alegações no momento.”