Meio Ambiente

Marina Silva toma posse no Meio Ambiente e anuncia ministério turbinado com quatro novas secretarias

Marina volta ao posto anos após ter comandado a pasta durante os dois governos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entre 2003 e 2008.

Por Bruno Abbud e Eduardo Gonçalves — Brasília

 

Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, durante sua posse, com a primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja

Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, durante sua posse, com a primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja Evaristo Sá/AFP

Quatorze anos após sua primeira gestão e de um período de relação conflituosa entre ambientalistas e o governo Bolsonaro, Marina Silva está de volta ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), desta vez com uma pasta turbinada. Ela tomou posse nesta quarta-feira na cerimônia mais concorrida dos novos ministros do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no Salão Nobre do Palácio do Planalto.

Ovacionada pela plateia e prestigiada pela presença do primeiro escalão do governo, Marina anunciou a criação de quatro novas secretarias na estruturas da pasta — de Combate ao Desmatamento, de Bioeconomia e Recursos Genéticos, de Gestão Ambiental Urbana, de Povos e Comunidades Tradicionais — além da Autoridade Nacional de Mudança Climática, que terá o status de autarquia e deve ser lançada até março.

Ela também revelou a volta para o guarda-chuva do MMA do Sistema Florestal Brasileiro e da Agência Nacional de Águas — esses órgãos haviam sido transferidos no governo Bolsonaro para o Ministério da Agricultura e do Desenvolvimento Regional, respectivamente.

Marina Silva toma posse, critica gestão de Bolsonaro e destaca prioridade da pasta
Marina Silva toma posse, critica gestão de Bolsonaro e destaca prioridade da pasta

Havia uma expectativa de que a ministra anunciasse quem formaria a sua equipe, principalmente as chefias do Ibama e ICMBio, mas ela só revelou o nome do seu secretario-executivo: João Paulo Capobianco, que ocupou o posto nas gestões anteriores dela.

A ministra fez uma dura crítica ao governo Jair Bolsonaro, dizendo que “boiadas passaram em lugares onde deveriam passar apenas políticas de proteção ambiental” e decretou o “fim da perseguição” aos servidores ambientais. O seu antecessor no cargo, o ex-ministro Ricardo Salles, ficou conhecido pela célebre frase de que era preciso aproveitar a pandemia de Covid-19 para “passar a boiada” nas regras ambientais.

— O que vimos nesses anos foi um completo desrespeito ao patrimônio natural brasileiro. Nossas unidades de conservação foram atacadas por pessoas que se sentiam autorizadas pelo alto escalão da República. Boiadas passaram em lugares onde deveriam passar apenas políticas de proteção ambiental — afirmou ela, e acrescentou: — O estrago só não foi maior porque servidores e parlamentares se colocaram a frente de todo esse processo de desmonte, sobretudo servidores públicos e setores do Judiciário.

A ministra pregou a “união” e a “transversalidade” com outros ministérios, sociedade civil e o empresariado. E ressaltou a necessidade de o país parar de ser um “pária internacional” na questão ambiental e que o tema é fundamental para a retomada de acordos e investimentos estrangeiros.

— Para que o Brasil volte, ao invés de ser um pária ambiental, que a gente consiga finalizar o acordo do Mercosul, trazer os investimentos, abrir o mercado para nossos produtos — declarou.

Ela encerrou a fala dizendo que sonha com uma futura geração que seja “sustentabilista”:

— A sustentabilidade não é uma maneira só de fazer, é uma maneira de ser, é uma visão de mundo, um ideal de vida. Esses nossos ideais estão tomando conta do mundo. Nossos filhos e netos já nascerão sustentabilistas. Uns serão conservadores, outros serão progressistas, uns capitalistas, outros socialistas, mas todos serão sustentabilistas. Sem a natureza a gente não vive. Só os negacionistas não reconhecem o imperativo dessa agenda — concluiu Marina.

A ministra chegou a passar mal ao finalizar o seu discurso, que durou cerca de 50 minutos. Ela teve uma leve queda de pressão depois de ser cercada por dezenas de apoiadores que celebravam a sua posse. E acabou se retirando rapidamente do Salão Nobre.

Evangélica da Assembleia de Deus, Marina iniciou a sua fala, agradecendo a Deus. Em seguida, fez menção a Lula e aos povos originários. A primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, compareceu ao evento, mas o presidente não.

Também marcaram presença o vice-presidente, Geraldo Alckmin, e os ministros Rui Costa (Casa Civil), Simone Tebet (Planejamento), Márcio França (Portos), Luciana Santos (Ciência e Tecnologia), Carlos Fávaro (Agricultura), Anielle Franco (Igualdade Racial), Silvio Almeida (Direitos Humanos), Sônia Guajajara (Povos Indígenas), entre outros integrantes do novo governo.

Além do primeiro escalão, participaram do evento a nova presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana; o ex-presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão. Este último foi demitido do governo Bolsonaro ao criticar o negacionismo científico da antiga gestão.

A neta de Chico Mendes, Angélica Mendes, também marcou presença. Assassinado em 1988 e símbolo da resistência dos povos da floresta, o seringueiro e ativista era amigo de Marina Silva.

Uma longa fila se formou e deu a volta no Palácio do Planalto, que é a sede do Executivo antes de a cerimônia começar.

Posse de Marina Silva no Palácio do Planalto atrai pequena multidão
Posse de Marina Silva no Palácio do Planalto atrai pequena multidão

O evento começou com uma banda que tocou o Hino Nacional em ritmos populares da música brasileira, como o samba e o forró. Em determinado trecho, alterou uma parte da letra em um aceno para o público feminino: “As filhas deste solo és mãe gentil, pátria amada, Brasil”.

Na sequência, a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, foi ao microfone e fez a introdução:

— Tenho muito orgulho de compor o ministério do presidente Lula com essa mulher de garra. Nós somos 11 mulheres nesse ministério. Nunca houve tantas mulheres no comando de pastas – afirmou a ministra.

Em seguida, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, discursou, dizendo que o mundo inteiro “deseja” que o Brasil se torne referência na questão ambiental.

– Marina, pode contar conosco com o melhor empenho de cada um de nós ministros. A Casa Civil se expressará todos os dias garantindo que o meio ambiente seja visto de forma transversal em todos os ministérios da República.

Perfil

Marina volta ao posto anos após ter comandado a pasta durante os dois governos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entre 2003 e 2008.

Aos 64, Marina Silva é ambientalista e historiadora formada pela Universidade Federal do Acre. Antes de ingressar na política, viveu em um convento por dois anos, onde aprendeu a ler e escrever, e foi professora da rede estadual.

Nascida em um seringal perto de Rio Branco, ela organizou movimentos sindicais e em defesa dos mais pobres. Foi vereadora em Rio Branco e deputada estadual no Acre. Em 1994, se elegeu senadora pelo primeiro de dois mandatos, aos 36 anos. O último se encerrou em 2010.

Suas bandeiras políticas incluem o combate à discriminação e ao desmatamento, a defesa de direitos dos indígenas e o fim da reeleição, por exemplo.

Candidata à Presidência em 2014 e 2018, ele recebeu 22 milhões de votos no primeiro, e 1 milhão, no segundo A reaproximação com o PT se deu neste ano, quando Marina anunciou apoio à candidatura de Fernando Haddad ao governo de São Paulo. Marina foi cotada para vice de Haddad, mas preferiu disputar uma vaga na Câmara. Eleita deputada federal por São Paulo, com 237 mil votos, ajudou a Rede a ultrapassar a cláusula de barreira, que exige um mínimo necessário de votos para manter o partido no parlamento.

Durante a transição, a ex-senadora foi escalada por Lula para compor a coordenação do grupo técnico dedicado ao Meio Ambiente ao lado de outros dois ex-ministros, os ambientalistas Carlos Minc e Izabella Teixeira.

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