História

Cemitérios cheios pelo Brasil

Esse é o maior legado de Jair Bolsonaro para o país

Guilherme Boulos

Professor, militante do MTST e do PSOL. Foi candidato à Presidência da República e à Prefeitura de São Paulo.

Guilherme Boulos

O maior legado de Bolsonaro são cemitérios cheios. Era só uma “gripezinha”. “E daí? Quer que eu faça o quê?”. “Eu não sou coveiro”. “Todos nós vamos morrer um dia”. “O Brasil tem que deixar de ser um país de maricas”. João Cabral de Melo Neto diferenciou a morte matada da morte morrida. Bolsonaro, com desumanidade atroz, transformou um vírus em morte matada.

A psicanálise ensina que, quando recalcamos um trauma, tornamo-nos reféns dele, que seguirá nos assombrando como um fantasma. É o retorno do recalcado, um passado que nunca passa. Bolsonaro representa um retorno dos piores traumas nacionais, nunca verdadeiramente superados. A alternativa ao recalque é a elaboração do luto, que, no caso de um sofrimento coletivo, se dá por memória e reparação.

O que o Brasil fará com o luto dos mortos da Covid? Pode outra vez recalcá-lo, simplesmente virar a página e tentar seguir em frente. Mas a história nos ensina que o esquecimento funciona como uma espécie de legitimação da perversidade.

Nestes dias, tem-se falado em mais um acordo de cúpula: Bolsonaro como senador vitalício, para que não pague por seus crimes. Seria a produção de um novo recalque nacional. Um desrespeito à memória dos que se foram, ao luto dos que ficaram e um recado para o futuro de que encher cemitérios é um crime aceitável no Brasil.

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