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Molécula aumenta taxa de prenhez e número de crias em bovinos

Wikimedia Commons
Descoberta é desenvolvida por pesquisadores de startup apoiada pelo Programa PIPE em parceria com a USP
Pesquisadores e sócios são egressos da Unesp de Jaboticabal

 

Pesquisadores da empresa Inprenha Biotecnologia, de Jaboticabal, no interior de São Paulo, em parceria com colegas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP), descobriram uma molécula capaz de aumentar a taxa de prenhez e diminuir a perda embrionária no início da gestação de bovinos.
A descoberta, resultado de um projeto apoiado pelo Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), da FAPESP, deu origem a um produto voltado a aumentar a eficiência reprodutiva animal com possibilidade de aplicação também em outros mamíferos.
O produto foi testado e patenteado pela empresa no Brasil e em outros oito países, além de na Comunidade Europeia, e está em processo de registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
“Descobrimos uma nova aplicação para a molécula. Não encontramos nenhum produto semelhante em desenvolvimento no mercado de reprodução animal no Brasil e no mundo”, disse Marcelo Roncoletta, diretor de produção e pesquisa da Inprenha e coordenador do projeto, à Agência FAPESP.
O pesquisador e sua sócia na empresa, a também pesquisadora Erika da Silva Carvalho Morani – que realizaram mestrado e doutorado em Medicina e Reprodução Veterinária na Universidade Estadual Paulista (Unesp), câmpus de Jaboticabal, com Bolsas da FAPESP –, têm estudado desde que fundaram a empresa, em 2008, alternativas para aumento da fertilidade e eficácia reprodutiva de animais.
Uma das linhas de pesquisa a que se dedicaram foi a diminuição da perda embrionária no início da gestação de bovinos baseada em hipóteses que levantaram ao estudar o reconhecimento materno da gestação e a imunotolerância materno-fetal para manutenção da gestação.
Durante suas pesquisas eles leram um artigo científico, publicado no final dos anos 2000, que relatava que, além de possuir propriedades imunomodulatórias e anti-inflamatarórias e participar de vários processos biológicos – como adesão, proliferação e diferenciação celular –, uma proteína recombinante da família das lecitinas ligantes de β-galactosídeo também conferia privilégio imunológico às células do trofoblasto (camada de células externas do embrião, que terão contato direto com o útero) ao modular uma série de mecanismos regulatórios para o estabelecimento e manutenção da gestação. Por isso, seria indicada para ser usada em procedimentos de reprodução assistida, como inseminação artificial e transferência de embriões.
Com base nessa constatação, eles contataram um grupo de pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP), da Universidade de São Paulo (USP), liderado pelo professor Marcelo Dias Baruffi, para verificar se produziam a proteína recombinante e se tinham interesse em ceder amostras delas.
Desde o início dos anos 2000 o grupo de pesquisadores da instituição tem produzido e estudado, com apoio de Bolsas da FAPESP, o papel dessa proteína recombinante na resposta imunológica de doenças, como a de Chagas e, mais recentemente, de dengue, em camundongos.
A parceria entre a instituição e a empresa resultou na confirmação da hipótese de que a molécula aumenta a taxa de implantação de embriões no útero materno de bovinos e no patenteamento tanto do produto como do processo de obtenção da molécula.
Em decorrência disso, a empresa tem investido na produção em larga escala da molécula recombinante com o intuito de atender a expectativa de demanda do produto no mercado interno e externo.
“O produto não visa ao tratamento de doenças ou de infertilidade, mas ao aumento de eficácia de animais férteis submetidos a procedimentos de inseminação artificial e transferência de embriões”, explicou Roncoletta.
De acordo com o pesquisador, o produto tem demonstrado eficácia quando administrado no dia da inseminação ou sete dias depois.
A administração do produto é realizada com sua deposição no útero do animal, em contato com o endométrio (mucosa de revestimento interno do útero).
“A partir da inoculação do produto começa a ocorrer uma série de eventos biológicos que culminarão no aumento do privilégio imunológico ao embrião. Isso, consequentemente, dará maior chance de estabelecimento e manutenção da gestação”, detalhou Roncoletta.
Testes iniciais
Segundo o pesquisador, o produto foi amplamente testado em procedimentos de transferência de embriões produzidos in vivo e in vitro – em que foi aplicado concomitantemente à inovulação de embriões na receptoras – e de inseminação artificial – em que foi inoculado no ato da inseminação, na sequência da deposição do sêmen.
Os resultados dos testes indicaram que o produto foi capaz de aumentar em 14 pontos percentuais a taxa de prenhez nas receptoras de embriões produzidos in vivo, 7 pontos percentuais nas receptoras de embriões produzidos in vitro e 10 pontos percentuais na inseminação artificial.
“Já fizemos mais de 10 mil inseminações, com diferentes raças e rebanhos, e as crias nasceram saudáveis, sem alterações neonatais e morfológicas, o que confirma que o produto é muito seguro com relação à farmacologia”, afirmou Roncoletta.
Além de bovinos, o produto possui potencial de aplicação em outras espécies de mamíferos e já foi testado em inseminação artificial de caprinos.
Os resultados foram semelhantes aos realizados com bovinos, afirmou o pesquisador. “O produto tem potencial de ser aplicado em qualquer mamífero”, estimou.
Por meio de um projeto que realizam também com apoio do PIPE da FAPESP, os pesquisadores da empresa pretendem validar a eficácia do produto em equinos.
Atualmente, a empresa tem capacidade de produzir 70 mil doses do produto por mês, que estão sendo usados para realização de mais testes.
Com a obtenção do registro no MAPA e a liberação da comercialização, o pesquisador estima que terão mais que dobrar a atual capacidade de produção.
“Estamos vendo que, pela aceitação do produto, não conseguiremos manter a nossa atual estrutura por muito tempo. A ideia é ampliar futuramente para atender à demanda”, disse Roncoletta.
Elton Alisson | Agência FAPESP

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